quarta-feira, 20 de agosto de 2014

7x

Fazia um mês que George havia parado com tudo. Com seu cabelo loiro, olhos azuis e corpo esquálido.
Naquela manhã, fazia 13 semanas que acendera o último baseado. Havia feito um ritual quase que profético para encerrar aquele ciclo. Ajoelhou-se em frente da mesinha do quarto, acendeu sete velas, lembrou-se de sete vezes que usou alguma coisa ilícita e prometeu sete vezes que não faria aquilo nunca mais.
Feito isto, ficou olhando a planta de cannabis durante sete horas. Queria ter certeza de que aquela era a decisão correta a ser tomada. Resolveu parar por conta própria.
Os pais, típicos alienados de classe média, ficaram espantados quando receberam a notícia.  Abraçaram o filho com certa insegurança perceptível para o garoto que, apesar de tudo, se manteve forte.
Passou-se um mês da decisão. Tudo estava tranquilo e calmo na casa dos Orwell - o filho único havia se tornado outra pessoa. Seus ataques de loucura haviam dado lugar a uma cinemateca caseira voraz. George via dez filmes por final de semana e escrevia resenhas sobre os livros.
Tudo começou voltar ao normal pré-estabelecido. O pai de George, professor de Ciência Política da faculdade do estado, voltou a pressionar para que o filho voltasse para o mestrado na mesma carreira do pai. Curado, o garoto seria o maior orgulho da família se retomasse a carreira.
Após um bom tempo de chamegos, a pressão também voltou do lado de mamãe. A ex-namorada, Sophie, era a menina dos olhos da matriarca. Formada na igreja pentecostal, a garota era o par perfeito que o menino havia deixado escapar pelo deslize do vício.
George passou, de novo, a ser fuzilado pelos progenitores, que queriam assegurar que ele fosse alguém. Mas, papai e mamãe se esqueceram de perguntar uma coisa: O filho estava realmente pronto para retornar ao fuzilamento da vida real?  O vício havia, realmente, deixado seu filho em paz?
George tinha todas essas respostas guardadas a sete chaves. Sempre que ia pegar o ônibus, passava pela boca onde comprava erva. Dai, lembrava dos amigos e as longas conversas que tinham durante o consumo. Sentia um misto de vontade de retomar a vida de antes com um orgulho descomunal por ter parado com tudo.
Apesar disso, não podia falar nada para ninguém. O pai estava preocupado com o mestrado, já a mãe preparava convites de casamento para a volta com a ex-namorada.
Todos estavam felizes, mas, por um instante, esqueceram de perguntar para a estrela do espetáculo se ela estava satisfeita com o enredo. A droga consumiu muito da vida social de George. Todo o seu castelo havia desmoronado por parar de usar uma substância. Estava perdido e, como bônus, ganhará a pressão de um compromisso matrimonial e uma nova carreira universitária.
O menino ficou no quarto por dois dias. Quando saiu, ficou com medo de falar com os pais pela felicidade do casal, Um já havia contado para universidade inteira que o filho voltaria. A outra, já encomendará terno, bolos e um buquê de rosas laranja para um coffe break comemorando a volta do casal.
Na porta, George deu dois passos para trás hesitando a partida. Parece que algo dizia para ele não sair naquela segunda-feira, 7 de maio, quando completava 14 semanas de abstinência. Ao passar na boca as 16h00, resolveu conversar com Thompson. Ao contar toda a trajetória daqueles dias, o amigo, que não parou com a droga, consolou George com abraços e beijos. Era tudo que ele queria. Sete minutos depois, com sete tragadas descomunais voltou ao uso.

Quando descobriram, os pais, sem pestanejar, diziam para Deus e o mundo que o filho era um fraco.

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