sábado, 19 de julho de 2014

#OmundodePerri


Capitulo 1

A descoberta

Arquipélago Gabriel, 20 de março de 2060

Hoje aconteceu algo estranho e engraçado com todos. Enquanto passeávamos pelo Largo de Arcanjo, no lado norte, vimos uma taberna escura com uma plaqueta dizendo: “Não entre’’. Assustado, olhei para Samuel que apenas conseguia virar seus olhos na direção do luminoso. Ali começava a questionar o porquê aquele lado do mundo era riscado em todos os mapas.
Naquela época, a ala norte do arquipélago era temida por todos. Ouvíamos desde cedo que quem habitava aquele lugar era sujo e asqueroso. Quando éramos pequenos, as escolas colocavam cartazes dizendo que quem ultrapasse avenida luminosa seria castigado com uma vida suja e vulgar.
Isso era o que os ‘’homens’’ diziam.  Para nós, aquilo soava como um grande desafio para descobrir o que tinha do outro lado.  Ultrapassar aquela linha imaginária era como outorgar às nossas mentes o passaporte do mundo adulto. Seriamos livres e independentes para todo o sempre.
No nosso lado do arquipélago, na parte sul, tudo era flores. Pessoas andavam sorrindo pelos lagos cheios de marrecos e peixes trazidos de um planeta chamado Terra.  Ninguém nunca comprovou a informação, mas, pela boca pequena, sabíamos que era um lugar com pessoas muito parecidas conosco.
Além disso, em nossa área, todos viviam em um ambiente de cordialidade fora do comum. Quando crianças éramos abastecidos de amor e carinho. Era normal que pessoas idosas dissessem que nós éramos o futuro daquele povo e que deveríamos ser tratados com zelo e compreensão.
As pessoas só mudavam o tom quando se perguntava algo sobre o norte. A cara fechava imediatamente, com ar de reprovação e repudio. Obrigavam-nos a fazer sinal de reverência e desculpas para os mestres sagrados apenas por termos interesse em conhecer o outro lado do nosso mundo.
No fundo sabíamos que aquele lugar era ruim, mas sempre acontecia algo, ou aparecia alguém, aguçando nossa curiosidade. Meninos mais velhos contando suas aventuras, garotas dizendo que só descobriram o verdadeiro sexo ali, além de adultos que iam para lá às escondidas para se divertir.

Com a agitação da meia adolescência em nossas veias, não havia como ignorar tais chamados. Foi então que eu, Samuel e Oton decidimos atravessar aquela avenida e matar a curiosidade que assolava nossas vidas. Sabíamos que aquele era um caminho que poderia não ter volta.

Continua...

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