Capitulo 1
A descoberta
Arquipélago Gabriel, 20 de
março de 2060
Hoje aconteceu algo estranho
e engraçado com todos. Enquanto passeávamos pelo Largo de Arcanjo, no lado
norte, vimos uma taberna escura com uma plaqueta dizendo: “Não entre’’.
Assustado, olhei para Samuel que apenas conseguia virar seus olhos na direção
do luminoso. Ali começava a questionar o porquê aquele lado do mundo era
riscado em todos os mapas.
Naquela época, a ala norte
do arquipélago era temida por todos. Ouvíamos desde cedo que quem habitava
aquele lugar era sujo e asqueroso. Quando éramos pequenos, as escolas colocavam
cartazes dizendo que quem ultrapasse avenida luminosa seria castigado com uma
vida suja e vulgar.
Isso era o que os ‘’homens’’
diziam. Para nós, aquilo soava como um
grande desafio para descobrir o que tinha do outro lado. Ultrapassar aquela linha imaginária era como
outorgar às nossas mentes o passaporte do mundo adulto. Seriamos livres e
independentes para todo o sempre.
No nosso lado do arquipélago,
na parte sul, tudo era flores. Pessoas andavam sorrindo pelos lagos cheios de marrecos
e peixes trazidos de um planeta chamado Terra.
Ninguém nunca comprovou a informação, mas, pela boca pequena, sabíamos
que era um lugar com pessoas muito parecidas conosco.
Além disso, em nossa área,
todos viviam em um ambiente de cordialidade fora do comum. Quando crianças éramos
abastecidos de amor e carinho. Era normal que pessoas idosas dissessem que nós
éramos o futuro daquele povo e que deveríamos ser tratados com zelo e compreensão.
As pessoas só mudavam o tom quando
se perguntava algo sobre o norte. A cara fechava imediatamente, com ar de
reprovação e repudio. Obrigavam-nos a fazer sinal de reverência e desculpas
para os mestres sagrados apenas por termos interesse em conhecer o outro lado
do nosso mundo.
No fundo sabíamos que aquele
lugar era ruim, mas sempre acontecia algo, ou aparecia alguém, aguçando nossa
curiosidade. Meninos mais velhos contando suas aventuras, garotas dizendo que
só descobriram o verdadeiro sexo ali, além de adultos que iam para lá às
escondidas para se divertir.
Com a agitação da meia
adolescência em nossas veias, não havia como ignorar tais chamados. Foi então
que eu, Samuel e Oton decidimos atravessar aquela avenida e matar a curiosidade
que assolava nossas vidas. Sabíamos que aquele era um caminho que poderia não
ter volta.
Continua...
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