sábado, 6 de setembro de 2014

A roda gigante e o bar




Quatro mesas, vinte cadeiras e um balcão já eram o bastante. Aquela cena no final da sexta-feira era paradisíaca. Era o momento onde as minhas costas relaxavam soberanamente. Eu sentia os músculos dissolvendo levemente enquanto o sorriso emanava. Aprendi mal, é verdade, mas aquele foi meu parque de diversão por um longo período.
Naquele ambiente, se discutia de tudo: Mulher, marca de carro, política, futebol e quadrinhos da turma da Mônica. Enfim, estar naquele lugar era como dar um grito; berrar a liberdade no simples ato de colocar um copo na boca.
Ali ninguém era de ninguém. A cerveja traz, em certo ponto, a igualdade de volta. Para fazer parte do papo, basta beber. Pode ser ateu, judeu, descendente de mongol ou admirador de Marcelo Camelo,como era o meu caso, bebendo você está inserido no contexto.
Para eu sair do bar foi o mais difícil depois que parei de beber. Meu problema não é tanto a cerveja, mas, sim, o enredo de beber a bendita. Aquele ambiente me da uma nostalgia lúdica.
Esse enredo todo mata quem não bebe. Todo o núcleo sócio-cultural envolvido com o ato de beber virou uma bolha social difícil de estourar. Se você não bebe, não tem bar ou balada que te suportam. Isso faz com que você não tenha um grupo para dialogar. Ter amigos virou uma co-dependência do álcool.
Mais do que o vicio, a bebida se tornou um ciclo. Amigos, beber e vida social viraram uma roda gigante onde quem está de fora, por qualquer motivo, se sente, literalmente, um intruso no meio da sociedade. E não falo só de dependentes, mas, de todos aqueles que não querem a bebida em suas vidas. Beber virou uma questão de status social. Significa estar incluso e, para o jovem, não há nada mais triste e selvagem do que esse reino paralelo da inclusão.
Sei que se eu entrar em um bar a chance de me render ao copo é muito grande. Toda vez que passo em frente a um, principalmente se eu tiver frequentado o mesmo, passo símbolos de Reiki loucamente. Tento me acalmar, e falo para mim mesmo: “Esse mundo não te pertence mais”.
No fundo eu queria poder ir ao bar como uma pessoa normal. Tomar uma garrafa, comer uma azeitona e ir embora sem culpa. Mas, como aprendi com o meu pai, o mais importante é ter humildade de saber o seu limite. E eu sei que o meu está da porta para fora do bar...

Mas que dá saudade dá...

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