Quatro mesas, vinte cadeiras e um balcão já eram o
bastante. Aquela cena no final da sexta-feira era paradisíaca. Era o momento
onde as minhas costas relaxavam soberanamente. Eu sentia os músculos
dissolvendo levemente enquanto o sorriso emanava. Aprendi mal, é verdade, mas
aquele foi meu parque de diversão por um longo período.
Naquele ambiente, se discutia de tudo: Mulher, marca de
carro, política, futebol e quadrinhos da turma da Mônica. Enfim, estar naquele
lugar era como dar um grito; berrar a liberdade no simples ato de colocar um
copo na boca.
Ali ninguém era de ninguém. A cerveja traz, em certo
ponto, a igualdade de volta. Para fazer parte do papo, basta beber. Pode ser
ateu, judeu, descendente de mongol ou admirador de Marcelo Camelo,como era o
meu caso, bebendo você está inserido no contexto.
Para eu sair do bar foi o mais difícil depois que parei
de beber. Meu problema não é tanto a cerveja, mas, sim, o enredo de beber a
bendita. Aquele ambiente me da uma nostalgia lúdica.
Esse enredo todo mata quem não bebe. Todo o núcleo
sócio-cultural envolvido com o ato de beber virou uma bolha social difícil de
estourar. Se você não bebe, não tem bar ou balada que te suportam. Isso faz com
que você não tenha um grupo para dialogar. Ter amigos virou uma co-dependência
do álcool.
Mais do que o vicio, a bebida se tornou um ciclo. Amigos,
beber e vida social viraram uma roda gigante onde quem está de fora, por
qualquer motivo, se sente, literalmente, um intruso no meio da sociedade. E não
falo só de dependentes, mas, de todos aqueles que não querem a bebida em suas
vidas. Beber virou uma questão de status social. Significa estar incluso e,
para o jovem, não há nada mais triste e selvagem do que esse reino paralelo da
inclusão.
Sei que se eu entrar em um bar a chance de me render ao
copo é muito grande. Toda vez que passo em frente a um, principalmente se eu
tiver frequentado o mesmo, passo símbolos de Reiki loucamente. Tento me
acalmar, e falo para mim mesmo: “Esse mundo não te pertence mais”.
No fundo eu queria poder ir ao bar
como uma pessoa normal. Tomar uma garrafa, comer uma azeitona e ir embora sem
culpa. Mas, como aprendi com o meu pai, o mais importante é ter humildade de
saber o seu limite. E eu sei que o meu está da porta para fora do bar...
Mas que dá saudade dá...
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