Fumei durante dez anos. No início, o ato de tragar e cuspir fumaça
era heróico, significando romper barreiras. Era como um rito de passagem
da fase infantil para a adulta.
Sair do colégio com o cigarro no bolso, permeando vielas
escuras para não ser descoberto, aumentava a adrenalina de uma vida que era,
basicamente, tocada da escola para cama, da cama para o bar e do bar para
escola. Era um ponto de rebeldia na fase em que só se ouvia uma palavra: vestibular.
Sim, em nosso país com 17 anos você é metralhado com a
obrigação de escolher o que quer ser para o resto da vida. Se você estuda em
escola particular, como era meu caso, professores, sem dom pedagógico nenhum,
jogam na sua cara que se você não passar em universidades públicas de qualidade
estará jogando anos de mensalidade pagas pelos seus pais na lixeira. O mundo
vira uma prova onde a reprovação vira a linha entre o fracasso e o sucesso.
Tudo isso, na época em que, além da carreira, estamos com as
veias sexuais abertas e querendo descobrir nosso mundo. Uma época onde queremos
tudo, sabemos tudo e choramos por, na realidade, não saber nada.
Tudo isso influência para que queiramos o proibido. O jogo
de gato e rato social faz com que a juventude clame pela contracultura,
sonhando em ser um peixe fora do aquário. É por isso que os ídolos são do rock,
o sonho são as tatuagens e o objetivo é experimentar de tudo.
Daí, voltamos ao bendito cigarro. A nicotina embrulhada em
papel é nada mais que um brado interno de indiferença quanto ao restante. O
cigarro, embora em baixa, ainda carrega o glamour da era do cinema americano
onde o herói tragava junto com sua bela mulher que cruzava as pernas com uma
piteira típica de bordeis franceses.
Além disso, traz um ar falso da tal contracultura. O tabaco
é um dos carros-chefes do capitalismo negro. No Brasil, sua produção é feita
ainda como nos tempos coloniais. O fabricante
compra os produtos superfaturados da indústria de processamento do fumo. Esta, por
sua vez, compra a folha do tabaco por preços muito baixos do produtor no campo.
Assim, se forma um círculo vicioso onde o produtor tem dividas astronômicas com
o seu cliente e, como não pode pagar, acaba cedendo seu produto por preços irrisórios.
Conclusão: Fumar, além de fazer um mal do cão, ajuda a
financiar um mercado negro que só se diferencia do da maconha pelo fato de
pagar impostos.
Em breve mais sobre os meandros da indústria do tabaco e
suas tramoias.
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