Fazia um mês que George
havia parado com tudo. Com seu cabelo loiro, olhos azuis e corpo esquálido.
Naquela manhã, fazia 13
semanas que acendera o último baseado. Havia feito um ritual quase que
profético para encerrar aquele ciclo. Ajoelhou-se em frente da mesinha do
quarto, acendeu sete velas, lembrou-se de sete vezes que usou alguma coisa
ilícita e prometeu sete vezes que não faria aquilo nunca mais.
Feito isto, ficou olhando a
planta de cannabis durante sete horas. Queria ter certeza de que aquela era a
decisão correta a ser tomada. Resolveu parar por conta própria.
Os pais, típicos alienados
de classe média, ficaram espantados quando receberam a notícia. Abraçaram o filho com certa insegurança
perceptível para o garoto que, apesar de tudo, se manteve forte.
Passou-se um mês da decisão.
Tudo estava tranquilo e calmo na casa dos Orwell - o filho único havia se
tornado outra pessoa. Seus ataques de loucura haviam dado lugar a uma
cinemateca caseira voraz. George via dez filmes por final de semana e escrevia
resenhas sobre os livros.
Tudo começou voltar ao
normal pré-estabelecido. O pai de George, professor de Ciência Política da
faculdade do estado, voltou a pressionar para que o filho voltasse para o
mestrado na mesma carreira do pai. Curado, o garoto seria o maior orgulho da
família se retomasse a carreira.
Após um bom tempo de
chamegos, a pressão também voltou do lado de mamãe. A ex-namorada, Sophie, era
a menina dos olhos da matriarca. Formada na igreja pentecostal, a garota era o
par perfeito que o menino havia deixado escapar pelo deslize do vício.
George passou, de novo, a
ser fuzilado pelos progenitores, que queriam assegurar que ele fosse alguém.
Mas, papai e mamãe se esqueceram de perguntar uma coisa: O filho estava
realmente pronto para retornar ao fuzilamento da vida real? O vício havia, realmente, deixado seu filho
em paz?
George tinha todas essas
respostas guardadas a sete chaves. Sempre que ia pegar o ônibus, passava pela
boca onde comprava erva. Dai, lembrava dos amigos e as longas conversas que
tinham durante o consumo. Sentia um misto de vontade de retomar a vida de antes
com um orgulho descomunal por ter parado com tudo.
Apesar disso, não podia
falar nada para ninguém. O pai estava preocupado com o mestrado, já a mãe
preparava convites de casamento para a volta com a ex-namorada.
Todos estavam felizes, mas,
por um instante, esqueceram de perguntar para a estrela do espetáculo se ela
estava satisfeita com o enredo. A droga consumiu muito da vida social de
George. Todo o seu castelo havia desmoronado por parar de usar uma substância.
Estava perdido e, como bônus, ganhará a pressão de um compromisso matrimonial e
uma nova carreira universitária.
O menino ficou no quarto por
dois dias. Quando saiu, ficou com medo de falar com os pais pela felicidade do
casal, Um já havia contado para universidade inteira que o filho voltaria. A
outra, já encomendará terno, bolos e um buquê de rosas laranja para um coffe
break comemorando a volta do casal.
Na porta, George deu dois
passos para trás hesitando a partida. Parece que algo dizia para ele não sair
naquela segunda-feira, 7 de maio, quando completava 14 semanas de abstinência.
Ao passar na boca as 16h00, resolveu conversar com Thompson. Ao contar toda a
trajetória daqueles dias, o amigo, que não parou com a droga, consolou George
com abraços e beijos. Era tudo que ele queria. Sete minutos depois, com sete
tragadas descomunais voltou ao uso.
Quando descobriram, os pais,
sem pestanejar, diziam para Deus e o mundo que o filho era um fraco.
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